Sobre cubos de gelos e noites infinitas

by - segunda-feira, julho 23, 2012


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Poderíamos ter falado mais, ter pensado menos, ter dançado mais e bebido menos. Também poderíamos ter continuado com as nossas mãos unidas e com o medo mais separado, cada vez mais separado. Você poderia ter me abraçado naquela noite. Eu poderia ter fechado os olhos para ignorar quem estava lá e poderia ter aberto o meu coração para você. Mas não. Fizemos tudo errado. E agora, em vez de pensar em tudo que fomos, penso em tudo que poderíamos ter sido. O “e se...” sempre foi o meu inferno particular, o tormento da minha alma, a retenção da minha felicidade e a destruição dos meus dias. Ter deixado você ir sem mais nem menos foi o meu maior “ e se...”. Pode até parecer estúpido, até mesmo idiotice, coisa de gente otária. Então que eu seja otária por acreditar. Por querer você. Por não aceitar você ter ido embora sem dizer adeus. Talvez seja por isso que eu não me conformo. Porque se você tivesse dito adeus, eu teria deixado você ir. Teria, sim. Mas amo tudo que parte sem se despedir, e você não foi exceção. Embora eu não te ame. É só paixão mesmo. Daquelas que eu invento semanalmente para não ter que encarar que a vida ficou chata, parafraseando Tati B. A verdade é que eu só fui me apaixonar por você quando tudo acabou. Amo tudo que acaba. Sou problemática assim. E já cansei de me perguntar o que há de errado comigo. Talvez nem queira descobrir. Gosto desse mistério. O não saber também é resposta. É conforto. É segurança.

A gente sempre se vê no mesmo lugar, todo fim de semana lá, sempre lá, nunca aqui, só lá, lá e lá. O lugar onde tudo começou. O lugar onde eu comecei. E você sempre me olha. E só às vezes me cumprimenta. Às vezes, finge que não me vê. Mas sabe que eu estou lá. Sabe, sim. E quer fazer algo. Mas não dá. Não dá pra implorar por amor em uma pista de dança. E você, meu querido, com todo o perdão da palavra, não é do tipo que volta atrás. Ou que implora para o mundo todo, embora implore em silêncio enquanto a música estoura os seus tímpanos e você dança ao som desta sua música preferida.

Você me provoca, joga água, me encharca de gelo e depois age como se nunca tivéssemos nos visto. Mas sei que se importa. Quando me abraça e diz “se cuida”. Quando me olha do outro lado do bar enquanto eu brinco com os cubos de gelo no meu copo, porque estou nervosa demais e não sei o que fazer com as mãos. Quando beija outra e me olha. Quando diz que, ultimamente, não tem mais controle de nada. Quando fecha a porta do táxi e me olha desaparecer pela noite (noite esta que parecia infinita quando estávamos juntos). Quando você olha para aquela que tem o meu rosto e pergunta se estou bem. Tudo isso é se importar.

Ou talvez eu seja burra, cega, estúpida e idiota mesmo. Talvez eu esteja inventando tudo isso só porque amo inventar coisas, e amo ainda mais escrever sobre elas. Talvez você tenha me deixado para trás. Talvez você não dê a mínima. Talvez eu tenha sido para você nada mais do que um pega casual.

Ou talvez eu tenha enxergado tudo, talvez eu tenha visto através de você. Talvez eu esteja certa, afinal de contas. Talvez seja isso mesmo. Talvez você se importe. Talvez eu não esteja errada. Talvez, em uma noite dessas, no nosso lugar favorito, a gente se veja e... E talvez eu tenha a minha resposta.

Mas, enquanto isso, continuarei rodando o cubo de gelo com o meu canudinho de plástico e continuarei comparando-o com o meu coração – congelado e puro – enquanto você me olha do outro lado do bar e ambos imaginamos que diabos aconteceu com a gente.   

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2 comentários

  1. Que texto perfeito. É exatamente isso...A gente ama tudo que acaba, e algumas vezes o que nem começou...
    Parabéns pelo texto, está maravilhoso!
    XOXO

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