Amigos amigos, papel carbono à parte

by - segunda-feira, dezembro 09, 2013



Fui entender, só agora, no finalzinho da noite, quando todos os tipos de pensamentos já passaram pela minha cabeça, o porquê de ter ficado tão abalada ao ver a sua foto. Quer dizer, não era porque você estava em outro país conhecendo o mundo e eu aqui, na mesma cidade, indo aos mesmos lugares e cometendo os mesmos erros, e também não era porque tinha uma mulher ao seu lado. Não, não, nada disso.

Engraçado, sabe, porque hoje eu fui ao dentista - pelo amor de Deus, eu odeio ir ao dentista, tenho pavor daquela broca com aquele barulho terrível, como se fossem cortar minha língua e o bonequinho do Jogos Mortais fosse aparecer a qualquer segundo - e me permiti pensar em você só para não pensar no que estava acontecendo na minha boca - uma roca medonha, um sugador de saliva, dois pedaços de algodão e uma massa branca. E, é claro, a luz na minha cara e a dentista e a instrumentadora comentando sobre algum babado do consultório, e de vez em quando a dentista me perguntava: tudo bem, e eu assentia, mas, na real, não estava nada bem porque eu tinha milhares coisas na boca, na cabeça e no coração, e me vi concordando, dizendo que sim, tudo certo, tudo bem, muito obrigada.

De qualquer maneira, foi em você que eu pensei durante toda aquela sessão excruciante, onde paguei todos os pecados que cometi com você no nosso último reencontro naquele bar, sempre naquela rua, naquela esquina e naquele maldito bairro do qual eu nunca consigo ficar longe. Achei que seria divertido me permitir pensar em você. E até que foi. Acabei pensando no seu cheiro. Sim, a coisa mais estúpida e clichê da face da Terra, mas lá vai: você cheira a sabão e um aroma doce que não consigo entender ou descobrir ou desvendar. E então percebi que você é igual ao seu cheiro. Posso ver quem você é logo de cara, assim como o sabão, mas nunca consigo compreender suas atitudes e as coisas que fala, como o aroma doce que não desvendo de jeito nenhum. No final das contas, acho que isso é uma coisa boa. Não conseguir desvendar você, quero dizer. Porque eu sei, lá no fundo, soterrado, bem trancafiado, que, se eu começar a te entender, não vou gostar da descoberta, e isso me fará falar coisas, e você acabará indo embora novamente, por que não é isso que sempre faz? Desse modo, continuarei a pensar no seu cheiro. E no seu tênis, que o fazem parecer um menino brincalhão fazendo traquinagens por aí. Gosto muito dos seus tênis. Não são pretensiosos, são honestos. E fofos. E devem ser bem confortáveis, porque esses dias eu sonhei que voltava da balada e que meus pés estavam me matando por causa daquela merda de salto alto que só promete e nada cumpre, e dai você me emprestava seus tênis marrons e confortáveis e então caminhávamos pela rua, você de meias e eu com o seu tênis e com meus saltos na mão, até eu encontrar um táxi. Por sinal, eu saberia que não voltaria chorando nesse táxi.

Mas... espera aí. Por que diabos eu estou falando sobre usar o seu tênis no meio da noite? Por que diabos eu estou falando no seu tênis e ponto? São 2:20 da manhã e eu realmente estou escrevendo sobre isso? Ok, essa bizarrice acabou de ir para um outro nível. Sem mencionar que todo esse papo me fez lembrar da dentista, e por sua vez o barulho da roca, e por fim o carinha do Jogos Mortais, e agora estou com medo pra valer, porque tá muito escuro e é de madrugada. Já mencionei que estou sozinha?

"Amigos amigos, porta carbonos a parte ..Protinho, dona Monique, você está liberada", foi o que minha dentista me disse ao terminarmos a sessão tortura, e eu meio que levei um susto porque, de novo, eu vaguei, vaguei e não cheguei a lugar nenhum. Não é triste ficar rodando? É como dançar sozinha pelo resto da vida. De qualquer maneira, precisei contar sobre minha ida ao dentista e sobre meus pensamentos bizarros para finalmente chegar onde eu queria - a foto. E, meu Deus, que foto. E o pior de tudo é que eu só fui sacar a pontada no estômago agora. Tipo, agora mesmo. Não é porque você está absurdamente gato na foto, ou porque se parecesse com o Joshua Bawman nela, ou até mesmo porque você está em outro país, a milhares de quilômetros. Ou, pior ainda, porque tem uma baranga de 148 anos ao seu lado. Não, não. É porque eu saquei o que a dor, ao ver aquela foto, significava. E aí vai: eu nunca vou te ter. Nunca. Não do jeito que eu quero. Só essas esbarradas pela noite, só essas piadas que o destino gosta, porque ele é o único que sai rindo disso tudo. Então, se eu não posso te ter, por que continuo a escrever sobre você? Quer dizer, já faz 2 anos. DOIS. E, tudo bem, eu nunca gostei pra valer de você. Mas, ao sentir o que eu senti ao ver aquela foto, eu percebi que estou começando a me apaixonar. E isso não é bom, porque todos sabem como as coisas terminam quando eu me apaixono pra valer por alguém. Dá última vez eu acabei levando meses pra me recuperar - recuperação com altos índices de tequila e vergonhosas recaídas em praça pública.

De novo, por que estou falando disso? AH É. Porque todos os meus relacionamentos, quando terminam, deixam destroços por todos os lados e eu levo ANOS para me recuperar. Então, agora você entendeu porque eu não posso mais deixar isso continuar? Porque se eu me apaixonar por você, você vai ser engolido pela noite, assim como eu. 

"Amigos amigos, porta carbonos à parte". E, olha só, está chovendo agora, e eu queria que meus sentimentos chovessem pra fora de mim e caíssem no asfalto, mas, adivinha, não vai rolar. Só tô escrevendo isso porque fiquei curiosa. "Amigos amigos, porta carbonos à parte". Você entendeu direito isso? Porque eu acabei de entender. Entendi tudo. 

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1 comentários

  1. Uau, amei seu texto. Eu preciso começar a escrever também! Acho muito legal quem consegue organizar a confusão que os sentimentos podem ser em linhas, e ainda assim, ser 'entendível'.

    Clara
    @mmundodetinta
    maravilhosomundodetinta.blogspot.com.br

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