A permanência da tinta
Você pensou que
eu fosse uma revista e me recortou inteira. Ainda escuto o som das páginas se
rasgando. Não é um som maravilhoso, apesar de assustador? Você não se importou
com a lâmina da tesoura me rasgando, só foi lá e o fez, porque é isso que tem
feito a vida toda. Não se importou com o vento levando tudo, tudo meu, cada
pedaço, cada milímetro meu. Me deixando sem nada. Um nada. Só com a espera.
E...
E então você
volta. Quer colar todos os pedaços novamente. Quer ir até aonde o vento
espalhou as páginas, quer me encontrar, mas não consegue. Meu bem, eu nunca fui
papel. Não dá mais, não dá mais.
Sou tinta. O
papel é muito frágil. Se rasga, se molha, se amassa, se destrói. A tinta fica.
Permanece. A agulha tatua, a tinta se incrusta na pele e jamais sai.
A tinta fica. Você
não.
A tinta é
vingança inofensiva. É a verdade sendo despejada. É a voz de alguém que se
calou e agora quer gritar. A tinta é a minha única certeza.
A tinta te fará
lembrar de tudo que já não é mais e de tudo que perdeu. A tinta é um aviso. É o
spray que picha seu carro. É o texto que está esparramado sobre a rua do seu
bairro. Sobre a sua calçada.
Ninguém vê
escrito da tinta, só você. Claro, escrevi por você. Para você.
Num mundo onde
pessoas são apenas duas coisas, posso dizer que onde eu era tinta, você era
apenas papel.
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1 comentários
Amei o texto, Mônica.
ResponderExcluirParece que algumas pessoas pensam que podem aprontar, sumir e quando voltar tudo estará ao normal. O mais importante é que, apesar da dor, ainda ficam os aprendizados de cada lição.
Abraços Mika,
Pensamentos Viajantes