Neon

by - segunda-feira, novembro 27, 2017


Era 01h32 de um sábado à noite. Você estava bêbado, eu em casa.
O celular vibra; eu sei que é você, me perguntando onde estou. Se posso te encontrar. Penso por alguns minutos e me lembro que a última vez foi há duas semanas. Seu rosto está começando a desvanecer da minha mente; os pequenos detalhes estão ficando borrados.
Acordo a minha irmã e digo: estou indo.
Tremendo e correndo pela noite. Quase zero graus, mas nada tem a ver com o frio.
Eu sei que alguma coisa vai acontecer essa noite.
Chego no bar. Nunca te vi tão bêbado.
Nas três línguas que conseguimos nos comunicar, não entendo nem uma sequer. Você está chateado. Diz que eu estava te punindo. E me diz tantas outras coisas.
Nada sai da minha boca.
Tanto para dizer, vinte e seis letras no alfabeto, mas não dá.
Você vai se esquecer de tudo amanhã, sei que vai. Mas não consigo.
Como é mesmo o ditado?  Paixões fúteis têm febres passageiras…
Eu cumprimento seus amigos; seu irmão está lá e eu percebo as diferenças: mais alto, menos barba, gente boa, parece, mas a primeira vista você também parecia.
Vejo a garrafa de rum na mesa; você é o único que está vraiment mal. Me questiono se você bebeu o suficiente para se lembrar de mim, ou se se lembrou de mim o suficiente para beber…
Por que você está tão mal?
Passamos a noite inteira discutindo, seus amigos e seu irmão percebem, há esse feeling no ar, você fala sobre sociedade e sobre empregos, eu não entendo mais nada e penso “que-merda-estou-fazendo-aqui” pela terceira vez.
Eles decidem ir para outro bar, eu te sigo. Você pega na minha mão pela primeira vez; estamos em um dos bares mais legais da cidade. A multidão é neon, as paredes também, e logo eu e você também o seremos.
A música é tão incrivelmente boa que eu penso: mesmo que tudo esteja desmoronando, eu sei que deveria estar aqui.
Uma pulseira de neon voa em minha direção. Eu a seguro pelo resto da noite.
A pulseira é a gente.
Num primeiro instante, reta, transparente. Você não sabe qual cor será até quebrá-la ao meio. Eu a quebro; é azul, azul como na música: “Losing him was blue like I’ve never known”. Continuo quebrando-a em pedacinhos para o neon se espalhar. Na noite, na escuridão, na luz negra da balada subterrânea, ela é linda e brilhante como uma estrela. Você se sente compelido; sabe que não pode deixar aquela coisa ir embora.
No dia seguinte, nada. Você força seus olhos, esconde a pulseira debaixo das cobertas, onde é escuro o suficiente, mas o neon já se foi. Tão efêmero como nós. Éphémère.
Fora do bar, só nós dois, você diz “You owe me nothing”. Quase vou embora, você é um idiota, tá? Então começa a falar em um dialeto antigo, mesmo que fosse fluente em francês, não entenderia. Te peço: Se você está falando algo importante, pelo menos tenha a consideração de fazê-lo em uma língua que eu entenda.
Você quer que eu vá pra sua casa; eu digo não.
I owe you nothing. Right?
Seu irmão chega, você estava mesmo disposto a abandoná-lo para passar a noite comigo?
“He really wanted to spend the night with you…”
Chacoalho a cabeça. “He is really drunk”, respondo.
“I am sorry”, seu irmão se desculpa.
Nesse momento, imagino o que ele tenha falado, se é que falou algo. Como seu irmão sabe? Como?
E então seus amigos começam a procurar outro lugar para ir, você os segue. Seu irmão fica na rua comigo. Eu digo que tenho que ir embora. Ele grita seu nome na rua, você e seus amigos se viram. Não importa, it was really nice to meet you, say goodbye to him, okay?
Não, espera… Ele berra seu nome de novo, você está parado, esperando….
I guess you will have to follow him….
Não vou segui-lo, ele não é o meu dono e eu posso ser burra às vezes, mas definitivamente não serei um cachorro.
Ele não vem, eu não vou.
“I am sorry”, digo, abraçando e dando um beijo de cada lado no rosto do seu irmão; os franceses se cumprimentam assim. “Just say goodbye to him, okay?” Ele percebe as lágrimas nos meus olhos, mas elas jamais chegam a cair.
Eu aprendi 3 lições valiosas naquela noite:
1 - Às vezes você precisa fazer loucuras às 01h32 da manhã (mas só às vezes);
2 - Pulseiras de neon são como relacionamentos;
3 -   Se a coragem não veio, foi por algum motivo;
4 - Se você não pode fazer uma entrada triunfal, pelo menos tenha a decência de fazer uma saída digna.
E sem jamais olhar para trás.

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2 comentários

  1. esse menino tem mesmo problema com todas. exatamente assim...

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  2. covarde e medroso, e a gente nao pode ser psicologa dele ne?

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